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A psicanálise junguiana no contexto da cultura japonesa de Kazuhiko Higuchi

  • Foto do escritor: Coletivo Othala
    Coletivo Othala
  • 17 de fev. de 2022
  • 4 min de leitura

Sincronicidade: aquela coincidência aparentemente ao acaso entre fatos e acontecimentos, mas que guarda em si um núcleo de significado comum.


Acredito que foi por sincronicidade que outros dois textos caíram em minha mão quando comecei a ler o Em louvor da sombra de Junichiro Tanizaki (nossa dica passada).


Pois então, segure aqui minha mão, porque nas próximas semanas vou continuar esta jornada pela cultura japonesa para que nós, analistas ou entusiastas do mundo da psique, possamos refletir mais sobre nossa atitude frente ao inconsciente e outros fenômenos psíquicos.


Tanizaki em seu ensaio fala lindamente sobre o teatro Nô, sobre suas penumbras e sutilezas, vestimentas e máscaras dos personagens. Vou deixar que ele mesmo diga: "Tanto na penumbra, que invariavelmente ambienta as peças do teatro Nô, como a beleza que dela decorre compõem um mundo de sombras peculiar que hoje só encontramos em teatros. Tudo indica, porém, que no passado tal mundo era muito mais próximo ao cotidiano das pessoas" (pág. 46).


Eu não sabia nada sobre essa forma de arte dramática até que no GEPJ (Grupo de Estudos de Psicologia Junguiana)* lemos este artigo de Kazuhiko Higuchi. Fui pega de surpresa pelo título A psicanálise junguiana no contexto da cultura japonesa, porque de forma alguma ele nos prepara para o texto que lhe segue. Brinquei com meus colegas dizendo faria mais sentido se o título original fosse: Reflexões sobre o fazer e o amadurecer do analista usando imagens do teatro Nô.


Com essa brincadeira de re-batismo, já aqueço você, leitor, para as ideias que Higuchi desenvolveu ao longo de suas páginas.


Para continuar com nosso aquecimento, vou lhe convidar a pausar um pouco a leitura por aqui, e passar ali no YouTube, procure por Teatro Nô ou Noh Play. Se você não o conhece aproveite e dedique alguns minutos para contemplar essa forma dramática... e me diga: o que lhe chamou atenção? O que você sentiu com seus sentidos e seu coração? Que memórias e imagens os sons, vozes, luzes e sombras do teatro Nô lhe despertam?


Não é por acaso que essa forma de peça traz imagens maravilhosas para pensarmos a atuação do analista e nossa relação com fenômenos que emergem do nosso inconsciente, então guiados e mediados pelo autor seguem essas reflexões.




A estrutura do Teatro Nô é muito própria, é composta por dois palcos conectados por uma ponte. Em um dos palcos é onde o drama se desenvolve, o outro é a sala de espera que não conseguimos ver, é para ele que os atores que não estão em cena se retiram e aguardam. **


Os músicos são muito importantes na peça, eles que criam a atmosfera física e psíquica de nossa história, e com perícia e sensibilidade, nos sobressaltam, nos emocionam, nos conectam profundamente com os afetos de cada personagem.


Quero aproveitar essa minha reflexão para pescar uma última pérola para o artigo de hoje. O cenário do Teatro Nô é discreto, composto de um painel liso e uma peça que simula algumas plantas ou bambu, por não ser preenchido acolhe espaços vazios e imanta nossos sentidos para o cenário psicológico da peça. Sobre essa reflexão peço licença para citar o autor: "A simplicidade do palco Nô e da narração me faz pensar quão diferente ele é da cena da sala de consultório habitual de um analista de formação ocidental. As paredes são geralmente cobertas de quadros, diplomas e livros. As salas estão cheias de móveis, carpetes e objetos artísticos. Não há nenhum espaço negativo" (pág. 369).


Fico pensando sobre isso. Em nossa cultura de preencher espaços e iluminar, talvez estejamos inflando os processos egóicos e da consciência, sufocando ou passando por cima daquilo que só pode se revelar nas sombras ou na identificação sutil dos conteúdos de nossa dinâmica projetiva. É importante refletir sobre nossa atitude frente a psique de nossos pacientes, será que tal como nosso consultório tentamos preencher espaços e vazios, ou conseguimos ter uma postura de abertura e acolhimento convidativa e atenta a essas manifestações?


Este artigo é riquíssimo, Kazuhiko Higuchi nos propõe a refletir sobre a percepção e o ritmo temporal da análise e da peça; a importância da tradição oral e dos contos; as máscaras e arquétipos típicos dessa forma de arte e também sobre o paralelo entre relação analista-analisando e a relação mestre discípulo...


Por fim, ele nos diz: "Nossa dança da vida é como uma peça, um poema ou uma canção" (pág. 378), como tem sido a arte da sua vida?



Dica de @psi.jugi


* GEPJ foi fundado na Universidade de Brasília em 2013 pela técnica da clínica Yvanna Sarmet. Hoje, ele se mantém ativo e organizado por alunos de graduação, psicólogos e outros membros da comunidade. Se você quiser saber mais sobre o GEPJ, confira as postagens e fale com a gente em @othalapsi.


O artigo A psicanálise junguiana no contexto da cultura japonesa foi escrito por Kazuhiko Higuchi está na coletânea Psicanálise Junguina - Trabalhando no espírito de C. G. Jung, organizada por Murray Stein. Editora Vozes, 2019.


Também citado Em louvor da sombra de Junichiro Tanizaki. Editora: Companhia Penguin, 2017.


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